
O que me constitui?
Não sei ao certo...
Estive por aí
Nos grifos das exceções
Perdida entre as multidões
Num perambulante devir.
Apaixonei-me por Drummond
O poeta de Itabira!
E fora dele
Desacreditava nos “romances”
Mas um dia vi que até ele
Tinha lá suas imperfeições
Então me cedi a amores frios
E beijos de freelance.
A música de Leoni
Também me embriagou
Quis ser então a sua fórmula do amor
E disse que com ele até me casaria
Compus canções pensando nele
Respondendo às suas letras
Fui ninada em suas melodias.
Mas, parei de ter paixões frias
Deixando-me enamorar por pessoas “reais”
Quebrei a cara!
Mas não foi por fantasia
E encarei com alegria
As lágrimas banais.
Mas o que me constituiu?
Não sei ao certo...
Talvez foi João Gilberto
Ou Vinícius de Moraes
Que me fizeram sair do tempo
Que me tiraram do cais.
Velejei com Engenheiros
Garotos como eu, meninos do “Ráuai”
Éramos todos Iguais
Mas tão, tão-tão desiguais...
“Uns mais iguais que os outros...”
Gritei “Que país é esse?”
Representei Faroeste Caboclo
E adivinhem,
Eu fui João de Santo Cristo.
Eu declamava, eu vivia isto
Eu existia...
Aos treze escrevi peça na escola,
Queria ser a psicóloga
Mas, fui a personagem que morria.
Escolhi o meu papel
De fazer aqui na terra
O meu cenário de céu...
Desdobrei-me para fora do tempo
Mas sem sair de dentro
Ainda que...
Fora do centro.
Chorei-rindo de Benigne
Nas suas tragicomédias indiscretas
Fui de carona com Che
Em seus Diários de Motocicleta.
Imitei, cantei, dancei, parodiei...
RPM, Biquíne, Mamonas,
Lampirônicos, Frejat, Paralamas,
Titãs, Elvis, Guns...
Edson Gomes! Ah! “Malandrinha...”
Rainhas Rita Lee e Cássia Eller
‘Bwanna, Bwanna’ ... ‘Ainda sou uma garotinha...’
Me fiz de difícil,
Fui tentar seduzir
Desequilibrei-me, Uau! Caí
Num precipício chamado amor
E fui caindo, ao som de Reação
Lendo ‘O Diário’ e o louco do Bonassi
Ao menos feliz
Ainda não cheguei ao chão...
Mas meus pés caminham firmes
A cabeça, é que vive fora da órbita
Das normas inóspitas
Sem razão, sem moral, sem motivos
Os meus, tão teus, modos de viver
Os nossos encontros
Humanos e significativos.
Chauí, Patto, Focault
Nietzsche, Meireles, Murray
Lispector, Pessoa, Machado...
Santana, Brito, Teles, Schaun, ‘Silvas’.
Paim, Cirino, Pereira, Pires, Novaes, ‘Vianas’.
Ahh!! Gauareschi e Maturana
Nas madrugadas, eles e eu
Apaixonei-me ao mesmo tempo
Pelo “padre” e o “ateu”.
Cardoso, Vicente, Santos,
Bitencourt, Aguiar, Reis
Barros, Mirante, Chirinéa,
Drummond (Agora sim o psicólogo...)
Moura, Lopes, Drapala,
Rodrigues
Ah Rodrigues!
E seus suspensórios
Que “insuspendem” a academia.
Que desnorteia, questiona, difama,
Desaloja, desapoia, desfaz,
Mas intrépido respeita
Incita, recita, acolhe, rejeita
Emociona e invade com seu latido sagaz.
Vasculhei minhas lembranças
Mas a virtude da memória
Não se faz presente em minhas poucas qualidades
Cartografei os encontros e as rotas desviantes.
Mas algumas palavras
Alguns nomes
Tão importantes quanto os citados
Permeiam por ali
Por aqui, por acolá,
Nos pensamentos automáticos
Nas ações autopoieses...
Há mais “coisas”
Nas entrelinhas das relações
Vividas nestes meus
Quase 22 anos de constante produz-ir.
Mas isso não se trata de algo particular
E como minha história não pertence só à mim
Faço minhas as palavras de Boal
“Não sou: estou sendo,
Caminhante, sou devir.
Não estou: vim e vou.”