quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Um empático diálogo sobre Felicidade...

 -"Qual o segredo da felicidade Denise?"
-"Não sei!"
-"Mas você me parece sempre tão feliz!"
-"Pareço é?"
-"Sim!"
-"Talvez é porque eu já aceitei que a felicidade são só momentos."
-"Então o segredo é aceitar que a felicidade é passageira?"
-"Não há segredo. Cada um vai encontrar a melhor forma de ser feliz na vida, uns sorrindo, outros emburrados, mas acredite, tem gente que é feliz mesmo quando só parece ser."
-"Ah, agora ficou difícil saber se você é realmente feliz ou finge ser, como aqueles que aparentam ser tristes mas na verdade são felizes por isso..." (risos)
-"Não se preocupe com isso, se é 'verdade' ou não, as probabilidades de acerto são tão confusas quanto as de erro, você não acha?"
-"Faz sentido. Mas porque você me parece está sempre feliz?"
-"Primeiro porque você não convive diariamente comigo (risos), segundo porque eu nunca perco a esperança de que mesmo que um momento de felicidade tenha se confrontado com dificuldades e barreiras diversas, que ofuscam os momentos de alegria, logo em breve, e esse breve não é cronológico, novas felicidade virão."
-"A esperança é o segredo!!"
-"Bem, me parece que a sua forma de buscar a felicidade é encontrar de algum modo uma ´'fórmula', uma 'receita' para ser feliz."
-"É... Gosto de ter um roteiro, de saber se estou indo pelo caminho certo."
-"E você acredita que é possível?"
-"Se é possível que haja um caminho certo?"
-"Não. Que alguém, ou algum roteiro, 'garanta' que o caminho será o certo? O 'certo' na sua opinião, é claro."
-"(10 segundo de pausa) Eu não sei. Eu tô feliz agora com essa conversa maluca com você. É engraçado isso... (risos) Você realmente nesceu para ser psicóloga."
-(risos) "Obrigada, mas acredite, nesta nossa conversa informal, utilizei mais coisas que aprendi na vida do que na faculdade."
-"Por isso eu gosto de você, sua menina feliz!"

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Quando o psiquiatra pirou...

O propósito deste texto foi apresentar de forma sucinta e criativa algumas das questões abordadas ao longo do semestre 2011.2 na disciplina Diagnóstico Psiquiátrico do IX semestre do curso de Psicologia da Faculdade Juvêncio Terra, sob a orientação do professor Antônio Moura.

Rferência principal: MOURA, Antonio. Linhas da Referência em Psicopatologia. Salvador: CIAN Gráfica e Editora, 2007.

Um quase teatro, uma estória quase real.
Qualquer semelhança...
É isso mesmo que você pensou!

01 Narrador e 06 Personagens: Psiquiatra que pira, Novo Psiquiatra, 3 profissionais da equipe de saúde mental e louco.
 
Recursos materiais: 5 jalecos, 2 colchonetes (ou similares), diversas caixas de remédios, uma vela e fósforo, CID 10, DSM4, Pranchetas, notebook e caixa de som.

Execução: 4 Narrações e 3 Cenas

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Introdução musical - Flauta nordestina
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Narração 1:

Numa cidade pacata
Zelosa pela moral e bons costumes
Um hospital psiquiátrico habitava.

Pequeno número de leitos e tempo de internação reduzida era uma norma
E apesar de suas grades
Tentava adequar-se a uma tal... uma suposta Reforma.

Havia ali uma equipe dita multidisciplinar
Que dividiam os seus saberes
Mas sabiam bem à quem deveriam por fim chamar.

(1ª Cena)

Louca: Socorro! Eles estão vindo me buscar! Ahhhhhhhhhhhhh!!! Tirem eles daqui!!

1ª técnica: O que está acontecendo aqui, que gritaria louca é essa?

Louca: Todos serão condenados! Eu disse pra vocês não tocarem a rainha, mas vocês não me ouviram, vocês não me ouviram!

2ª técnica: A senhora está descompensada D. Maria, será que anda cuspindo os comprimidos novamente?

Louca: (Risada escandalosa)

3ª técnica: Ela precisa ser medicada com urgência.

Louca: O céu é azul! Mas as vezes é negro!! (Grito) Ele tinha que ser sempre azul (voz de medo)

2ª técnica: Teremos que chamá-lo.

1ª técnica: Chame o psiquiatra!!!

Em silêncio a cena continua como se a louca continuasse “aos berros” e as 2 técnicas tentando acalmá-la. A outra técnica traz o psiquiatra e o som volta.

Louca: (Risada estridente)

Psiquiatra: Não há motivos para risadas!

Louca: Coitados!! Bastardos!! Coidados!! Só os meus filhos sobreviverão, vocês vão chorar quando eles chegarem, mas os meus filhos, eles não, eles não vão!! (bastante gesticulação com as mãos, começa a sussurrar e ficar com o tronco bem agitado).

(Com uma das mãos apontadas para a paciente o psiquiatra medica. Ao som da música "O Guarani" de Carlos Gomes - Introdução da "Voz do Brasil")

Psiquiatra: HALDOL!!!

A louca fica paralizada, contida, sedada. As técnicas ajeitam a paciente, enquanto o Dr. Sai e fica em cena com ar pensativo, olhando seus livros, sua bulas, seus remédio. Nisso acontece a 2ª narração.

Narração 2:

Mas o psiquiatra ele também tem nome
Ele também é um homem, é sim senhor!
O Sr. João José Antônio Pinto Costa Salvador.

Filho e neto de médico, abandonou cedo o sonho de ser artista
Às vezes, fazia atendimentos gratuitos
Alimentando o seu pseudo-espírito altruísta.

Há 30 anos se encontrava diariamente com a loucura alheia
Na busca de calar a própria.
Envolto numa segura teia, fazia das Bulas as suas grandes sócias.

Um dia deixou escapar o sentido
E não encontrou o caminho de volta
Foi quando o seu “Eu” foi perdido.

(2ª Cena)

Psiquiatra: Risos Imotivados, vivências deliróides, agitação psicomotora, alterações cognitivas, Embotamento afetivo, di-las-ce-ra-men-to do EU!!!

2ª técnica: Dr., o que há com o senhor??

Psiquiatra: Todas as respostas!! Para todos os sintomas! Pode ser neurose, pode ser psicose. Todo mundo tá com depressão. Não me enche os pacová!! Esquizo-frenia! Síndromes paranóides! Transtornos do humor e da personalidade! Ah, deixa a pessoa ter a personalidade que ela quiser!

3ª técnica: É claro e evidente que ele está tendo um surto, você que é psicóloga faça algo (volta-se à 1ª técnica).

1ª técnica: Eu vou fazer sim, vou avisar o diretor do hospital!! (sai)

Psiquiatra: Retardados Mentais!! F03, F19, F20. Um histeria de vez em quando faz bem! Mas eu não sei de onde vem nem pra onde vai tudo isso... Ahhhh!!

1ª técnica (retornando): Pronto! Já falei com o diretor, ele já informou o secretário de saúde, que já ligou para o prefeito, que imediatamente entrou em contato com o governador, eles já estão nos enviando um novo psiquiatra.

Narração 3:

A rapidez deste envio, é coisa de contador de história
Mas é fato que há um medo (pelo e do poder)
De não se ter quem ‘controle’ a escória.

A equipe, pobrezinha, tremia de aflição
Aguardavam o novo “doutor”
A quem não hesitariam em também pedir a sua benção.

(3ª Cena)

Em silêncio, a equipe está ajoelhada em volta do psiquiatra agitado, tentando acalmá-lo. A psiquiatra nova entra, de jaleco e salto alto, estende a mão para a equipe que de baixo a recebem quase beijando-lhe os pés. Num gesto com as mãos, pede para que abram espaço, para ver o psiquiatra enlouquecido.

Psiquiatra Louco: Lá vem mais uma cheia de amarras. Eu também já estive aí em cima.(Risada) Mas logo você também entenderá, que o espírito caga! Caga! Ele caga! Eles defecam sobre nós, e nós comemos com prazer toda essa merda...

(Ao som da música "O Guarani" de Carlos Gomes - Introdução da "Voz do Brasil")

Psiquiatra Nova: HALDOLL!!

O psiquiatra fica paralizado, contido, sedado. As técnicas o ajeitam na suposta maca. Todos os personagens sentam-se em silêncio atrás dos corpos caídos do psiquiatra louco e do louco da primeira cena. Uma das técnicas coloca uma vela entre os dois corpos. Enquanto isso, a 4ª e última narração acontece.

Narração 4:

Estereótipos à parte, as práticas antigas ainda se mantêm, repletas de palavras-de-ordem
Certo que, com as novas “capas” de hoje
Mas com os mesmos desejos de ontem.

Segregação e exclusão, “Afaste de mim este louco!”
“A culpa é da serotonina!!”
“Deixe-o sedado pelo menos mais um pouco”.

O hospício está em nós, nas vivências de nosso sobreviver
Um outro encontro, um outro fazer, é possível?
Sabidos, oh Sabidos! A quem serve o seu saber?

Que atire a primeira pedra, aquele que nunca delirou
Quem nunca aprendeu, enquanto ensinou
Ou que também não teve medo, ou um afeto qualquer, quando o psiquiatra pirou.
  
Canção sobre morte toca enquanto a equipe vela o corpo do psiquiatra louco como se este estivesse morto.

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Final musical - Flauta nordestina do início / Agradecimentos à platéia
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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Um toc para você

Não me leve tão a mal

Isso é um ritual

Que eu não posso controlar...

Alguns medos obsessivos

Outros impulsos compulsivos

Mas está tudo bem!  não precisa me tocar...

Não me leve tão a mal

Isso é um ritual

Sei que já disse isso, mas é sempre bom lembrar!

Denise Viana * Psico-Poeta

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Melindre...

"Lidar com gente não é fácil..." esse clichê, ou clássico das verdades mundiais, tem sido diariamente confirmado em minhas relações familiares, acadêmicas e sociais. Relacionar-se com uma pessoa ou com um grupo de pessoas envolve sempre um limiar do que pode ou não pode ser dito ou feito. O cuidado é algo constante. Nunca se sabe o nível de melindre dos corpos alheios. As vezes, nem do próprio. Mas me divirto muito na vida, com tudo que encontro... Até com esse bico que você faz quando me vê...

Denise Viana * Psico-Poeta

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Quando o tempo cronológico já não é o suficiente

Já não se consegue controlar
E as aflições extrapolam os limites dos pensamentos
E o corpo grita ferozmente e clama pelo tempo, pede pra parar

Parece sentir os segundos
Mas as horas se vão descontroladamente
Quer culpar os ponteiros, o relógio, as estações, a vida

Caminha em passos lentos
Come e bebe daquilo que te oferecem
Desconhece dos venenos escondidos atrás dos sorrisos

Tudo parece se dissolver
Nenhuma resposta é satisfatória
Nem mesmo as perguntas já lhe fazem algum sentido

Vai então ao rumo do vento
Tenta esquecer-se do corpo e dos pensamentos
Restam flores no solo úbere, e sementes pedindo para serem regadas.


Denise Viana * Psico-Poeta

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um clichê chamado solidão

trata-se de uma solidão que está sempre em companhia
um estar-só, embora nunca esteja sozinho...


um sentimento que não vem com o barulho da chuva
nem com o silêncio das manhãs de domingo
ou com uma aparente tarde vazia

mas de algum lugar relutante dentro de si
atravessado por desilusões, medos e fantasias que nunca contou sequer para si próprio
sem querer aceitar a autoria dos pensamentos indecorosos

rejeitou-se e simulou por muito tempo uma saúde que não era sua
mas que roubara dos livros, de autores e personagens que, coincidência ou não,
conheciam intimamente a história de sua vida

ontem, quando se sentiu só,
lembrou-se de quantos poemas ponderando (sobre) a solidão desprezara
colocando-os na infame caixinha de clichês

viu então
escritas em seu corpo, delicadas marcas de um lugar-comum

e a solidão era apenas mais uma.

Denise Viana * Psico-Poeta

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Corpo delito

Um corpo às vezes é delírio
     Delícia
           Desejo
                 Delito


Corpo sem moral, inquieto, sabido de si

Suave e cálido,
Palhaço e bandido dos outros


Num impulso ele pulsa, batidas irregulares no peito
 Que se reverberam pelo incontrolável chiar da boca
Faminta tão terna da própria antropofagia


Antes de sentir, o corpo pré-sente
Vive os sonhos e imaginações com real sinestesia
Transgride a gramática verbal, como Manoel de Barros já denunciava
Que as crianças assim faziam


                                                    Eis que o corpo cheira canções
                                        Enxerga silêncios
                               Escuta cores
                  Saboreia poesias


Já tem uma barraca na feira onde pode se ouvir
“Um corpo aparência por múltiplos corpos vivências!!”
Troca-se!


Um corpo gozador de si
                              De estupor e brandura
                                                          Pode ser delito de outros


No cenário do crime
Sinais de uma vida pacata de um cidadão de sucesso
Que tinha tudo o que o dinheiro poderia alcançar.



Denise Viana * Psico-Poeta

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O que sei?


Como posso ser/sentir/"saber" só daquilo que vejo?
Se há lugares e pessoas que meus olhos não alcançam,
mas que minha alma encontra, se encanta, se desmantela e se indaga?





Denise Viana * Psico-Poeta

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Primavera


O vento já não é tão frio nesta orla sem mar...
Mas vem suave e girando as folhas pelo ar
Sob sol leve de primavera, impossível não sorrir ao caminhar!

Denise Viana * Psico-Poeta

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Espelhos da alma

acontece, vez ou outra,
nem sempre, nem nunca,
um encontro singelo, 
arquétipo e afetuoso
entre o Ânimus que há em mim
e a Ânima que há em você
a gente troca de papéis
e acaba sendo um para o outro
espelhos da alma

é bonito

não o reflexo
ou eu ou você
mas, o encontro
da porção de mim em você
e da porção de você em mim
a gente gosta disso
gosta de ver no outro
aquilo que gosta na gente.

Denise Viana * Psico-Poeta

domingo, 28 de agosto de 2011

Aos que amam e aos que odeiam

Há pessoas que te amam
Há pessoas que te odeiam

Mas você sabe (ou deveria saber)
Que você não é exatamente
O que pensam aqueles que te amam
Nem o que acreditam
Aqueles que te odeiam

Cada um é o encontro!

Quando coisas que lhe atravessam
Encontram aquelas que atravessam outras pessoas
Afetos diversos são gerados

Assim,
Quem ama um outro alguém
Também ama coisas de si mesmo
E quem odeia um outro alguém
(talvez não saiba conscientemente)
Mas também está a odiar coisas de si próprio

Um encontro nunca é feito sozinho!

Mesmo o "Eu"
O mais peculiar, solitário ou singular
É atravessado por inúmeros "Nós"
Cheios de amarras que unem, marcam e entrelaçam

O encontro sempre acompanha devires
E os sentimentos produzidos neste
Escapam de todos os lados envolvidos.

Aos que amam e aos que odeiam
Qualquer sinal de reciprocidade
Pode ser mera coincidência. Ou não.

Denise Viana * Psico-Poeta

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Estamira é abstrato!


Não, não é um “trocadilo”, Estamira morreu.
No anoitecer da última quinta (28/07).
Não foi entre os “restos” e “descuidos” de Gramacho
[O lixão virou aterro]
Não foi vendo o céu azul sendo cortado pelo vento
Que levantava papéis e sacolas a dançarem com os urubus.
Foi no Hospital Miguel Couto, na Zona Sul do Rio
“Infecção generalizada”
A família acusa negligência
A Secretária de Saúde nega
A mídia ainda fala da morte de Amy Winehouse, e de outros 'astros' que morreram aos 27.
“a terra suja ridicualizou os homens”
Sim, Estamira.
“do que adianta? sabe ler, sabe escrever e não sabe o quê”
Sim Estamira.
“valoriza o que se tem, quanto menos as pessoas têm, mais eles menosprezam, mais eles jogam fora”
Sim, Estamira.
“bonito é o que fez e o que faz, feio é o que fez e o que faz (...) a incivilização que é feio”
Sim Estamira.
Assim como a protagonista do documentário do Marcos Prado
Diariamente pessoas morrem nos hospitais públicos
Muitas dessas, vítimas do descaso e do descuido
Que ocorrem antes, durante e depois da morte
“Eu, Estamira, sou a visão de cada um”
Valter Rodrigues nunca duvidou Estamira!
Estamira para sempre, “para todos e para ninguém”.
Compartilho da dor da querida Kueyla
E vou pensando nesse “controle remoto superior”
Nas coisas concretas de algum “esperto ao contrário”
Mas, “tudo é abstrato, Estamira também é abstrato”.


Denise Viana 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Carta sem palavras

Hoje eu recebi uma carta
Era uma carta sem palavras
                                         [sem palavras]
Mas que trazia consigo resquícios de poesia.
Não tinha palavras
                         [palavras]
Além de remetente e destinatário no exterior de seu envelope.


Tinha selos coloridos, ah! A quanto tempo não via selos! Selos coloridos...
Os olhos brilharam ao vê-los, sempre gostei de selos...


Uma carta sem palavras
Com os traços da beleza de algum nariz de palhaço
daqueles que ainda sabem do valor de fazer graça

Mas sim, era sim uma carta.
                                         [carta]


Estava lá entre as contas mensais a serem pagas e as propagandas de ofertas de outras coisas que desejam se fazer dívidas futuras...

Estava lá, 
brilhando na minha caixa de correios.
E trouxe-me aquele sorriso agradável
                                                 [aquele] 
Que só sabe o que se sente
quem já recebeu uma carta.

Era uma carta, 
                            uma carta
                                                   uma.
Com o meu endereço como destino
E o meu nome sobre ele.


Dentro, nenhuma palavra
                                      [nenhuma]
Só um pequeno embrulho que me disse:
                                  [de dentro para fora]
"Acorda estrela"...






Denise Viana 

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Silêncio

Há momentos que faltam-nos palavras...
Quais vocábulos podem traduzir fidedignamente o que se sente?
Mas nada é tão fidedigno em si, nem o sentimento...

Mas, quais palavras podem se aproximar mais do que realmente nos ocorre?

Muita e muitas vezes eu não sei o que falar,
Então, cobram a minha voz
Refutam o meu calar...

Este meu silêncio revela o ar solitário que res_piro
Nos ventos frios desta planície alta
Eles vêm dialéticos, de dentro e de fora
Congelando meus pensamentos numa mesma cena
Na mesma saudade daquilo que não tenho
No mesmo desejo intenso daquilo que cada vez mais
Distancia-se dos meus olhos
Como um navio do cais.

Denise Viana * Psico-Poeta

terça-feira, 5 de julho de 2011

Para onde quiser...


Não é que "mais vale um pássaro na mão...", nada está garantido (tampouco “caprichoso”, lembrando das disputas amazônicas...), é só um medo sutil de não ouvir mais nenhum canto, de que nenhuma ave airosa retorne aos jardins da menina, que não terá a coragem de prender nenhum pássaro amado (mesmo numa gaiola belíssima, digna de “um pássaro que se ama muito”¹). Ela sente que suas asas frágeis estão ficando cada vez mais firmes, ainda que leves, mas com aquela gostosa sensação de que também poderá voar, a qualquer momento, e para onde quiser.

Denise Viana * Psico-Poeta


¹ Citação do Conto "A menina e O Pássaro Encantado" de Rubem Alves

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Espera matuta


O banho de cuia foi demorado
Os cabelo bem lavado
Os pés bem ariado
O sabão mais perfumado
Pois chegou o dia, esperado o mês inteiro.

Pôs o mió vestido de chita
As sandáia de couro e de fita
As pursêira mais bunita
O escapulário de Sto. Antônio e Sta. Rita
E se banhou de água de cheiro.

Fez café e bolo de fubá
Um refresco de maracujá
No rosto um pózim de arroz pra clarear
Um carmim pra rosear
E nos lábio o batom mais vermeio.

No oratório acendeu uma vela
Pra que não tivesse ninhuma mazela
Pôs no cabelo a fulôr mais bela
E esperou na varanda, sentada na janela
Mas ele... ele não veio.

Denise Viana * Psico-Poeta
Imagem: flickr.sheilatostes

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Pipoca doce

Praça Colorida
Cheiro de Quentão
De amendoim e milho cozido
Gosto de pipoca doce
Impossível controlar o riso!
Aparentemente "imotivado"
Sintoma patológico
"Sorrindo sozinha?" Apontam,
Acho ainda mais graça
''Nem sabem, sequer imaginam
Que nunca estou só dentro de mim''.


Denise Viana * Psico-Poeta

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Nômade


Elementar meu caro Foucault!
Minh'alma anda mesmo viajante em uma série poética de quimeras
Enquanto o meu corpo reside na mais avessa realidade.

Trafego então na procura de produções que contemplem tanto alma quanto corpo.
“E se os desejos se divergem?”
Pergunta o ego aflito,
“A quem sou infiel? À alma ou ao corpo?”
À ninguém! Penso eu.

O que move o corpo com suas palpitações homeostáticas
Na busca de equilíbrio,
Tem ligação em fortes e finas linhas com o que move a alma
Com suas propriedades e emoções aladas e instáveis.

Aos que viram/ouviram/sentiram minhas angústias
Digo que já sofro menos com os tais pensamentos inquietos
Já criei novos modos de sobrevivência...
Que amanhã, talvez, não mais me sirvam
Mas que hoje, certamente, vestem-me muito bem!

Seja como um novo sentido diante da vida,
Ou como um suposto mecanismo de defesa
Que possibilita uma vivência menos dolorida.

Mas chega então desta “psicanálise selvagem”!
Sinto-me tal Freud, a fazer suas auto-análises.
E que fique claro
Que não tenho nenhum anseio que isto vire ciência,
Para me frustrar não vê-lo sendo ou pensar mais do que viver.
Tão pouco que se torne teoria,
Para ter seguidores sedentários, repetidores de pensamentos
Ou dissidentes equivocados...

Do que mesmo eu estava escrevendo?

Ah, que não faço questão de está na literatura,
Nem na fama, nem nas camas alheias
[não para ser “lida” antes da modorra soprar].

Não quero nada a mais [neste momento]
Além de dizer aos caros leitores e leitoras
Que estou caminhando...

Sou Nômade!
Corpo e Alma!

Denise Viana * Psico-Poeta

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Coisas



Por muito tempo busquei quais modelos, de diversas coisas, aos quais eu poderia me adequar.
[sempre me achei inadequada...]
Depois, passei mais um bom tempo procurando coisas outras que se adequassem ao meu jeito.
[sempre achei que eu tinha um jeito...]
Hoje, neste instante, não procuro, nem quero um jeito, quero só o prazer do encontro com as coisas e tudo mais que com ele surgir.
Um encontro entre as coisas minhas e as coisas alheias, que produzem entre tantas outras coisas, coisas que [graças à Deus!] não são minhas, nem dos outros.


Denise Viana - 13/05/2011 - Após auto-decepção - Salvador/Bahia

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dias que não sei

Há dias que nada nos consola
E o mundo parece desabar
Falta algo...
O que é?
Não sei,
Angústias existenciais
Pensamentos nefastos
Raiva de não sei o quê
Saudade de não sei quem
Será o período do mês?
Será o saldo bancário?
Será a agenda e seus deveres?
Será que é tudo que já foi dito?
Ou será a espera pelo que se há de dizer?
De ouvir, de ler, de sentir...
É que dói,
Dói não saber porque dói,
Esta dor que nem sei onde sinto
Será que minto??
Para quem??
Será que me enganei?
Das verdades que falei
O quanto fiel fui à mim mesma?
Nem sei...
Será que sou louca?
Ou isso tudo é coisa pouca
Que o amanhã adormecerá?
Se a vida é mais do que palavras,
[Como digo por aí]
Porque as palavras
E também a falta delas
Fazem dos meus dias essa angústia sem fim?


Denise Viana * Psico-Poeta

sábado, 23 de abril de 2011

Deixe

Deixe que eu chego
Me achego e me entrego
Deixe!

Perceba minhas pistas
Se encaixe
Me sinta!

Relaxe, não prometa
É meu gosto neste vinho
Beba!

E sem aviso
Sem hora, nem prazo
Invada!

Fica na memória,
Na pele, no cheiro
Revele!

Deixe que pensem
Deixe que falem
Viva!


Denise Viana * Psico-Poeta

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Pele


O que se passa na pele
Alterada
Carnívora
Dilatada
O que se passa?
Pela pele...
Pelos pêlos...
Pelos poros...

Passa!



Denise Viana * Psico-Poeta

sexta-feira, 25 de março de 2011

Isso


É que seu abraço tem isso
Isso que não sei o nome
Isso que não sei o quê
É que seu abraço tem isso

E tenho medo que isso eu não mais possa ter

E se isso estiver longe
O quão longe eu posso suportar?
E se eu não tiver mais isso
Como a vida sem isso será?

Isso que não sei o nome
Isso que não sei o quê
Mas é que seu abraço tem isso

E tenho medo que seu abraço eu não mais possa ter

É por isso que eu sonho com isso
E isso me ajuda a te ter.


 
Denise Viana * Psico-Poeta

quarta-feira, 9 de março de 2011

Passou o Carnaval...

Passou o Carnaval...
Ficou a pureza da água
e a vibração da dança...
 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

PALHAços!

Palhaços
Somos todos!
Em nossos fogos de palha,
Em nossos nervos de aço.

E um espetáculo acontece
Aqui e agora
Para além do que se foi
e do que se sonha ser
Neste picadeiro itinerante chamado vida!


E num conto falado
A palavra cantada
pode até parecer piada
À uma desavisada plateia.


E chega um dia
Que é chegada a sua estreia
E em algum canto
Há alguém que espera ver
O circo pegar fogo!


Aonde estão os palhaços?
Com seus fogos de palha,
com seus nervos de aço?


De maquiagens confusas
Gargalhadas tão mudas
Sapatos tão pequenos
Lá vamos nós!


De suspensórios nas mãos
Que também seguram as calças...
Lá vão os palhaços,
A procura de graça...


Denise Viana * Psico-Poeta

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Sobre coisas que não sei dizer...

Sobre amor, desejo, paixão... O que dizer? Coisas que chegam assim sem avisar, invadem os pensamentos, os sentidos, a razão e a emoção (para os que consideram estes dois últimos separados)... E permeiam sagaz e sutilmente as mãos e seus dedos, os lábios e sua língua, o corpo e suas partes... E nos deixam assim, meio sei lá, inteiro não sei... O que falar sobre coisas que não sei dizer? Do cheiro que fica na pele, da sede, após o beber, da taquicardia e sudorese... Melhor que não haja palavras, nada se enquadra ao que se sente, e muito triste seria se houvesse exatamente como descrever tudo isso, seria como reduzir algo imensurável, ainda que fosse em milhares de páginas. Sobre as coisas que não sei dizer, permito-me sentir!

Denise Viana * Psico-Poeta

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Escolhas...

Pelas Barbas do profeta!
Como eu queria ter algumas respostas...
Como o futuro me pertuba!

O que fazer para viver o hoje?
Com entregas despreocupadas
Desmedidas, perdoadas...

E logo eu, que não sou de me culpar
De julgar, de sofrer pelo medo
Ou se angustiar antes mesmo do tentar!

O que fazer das escolhas?
E com as alternativas eliminadas?
Aonde marcar o x?

Posso até mudar de escolha
Mas nunca é do mesmo jeito
E seja qual for, sujeito-me à consequências variadas...

Como fazer
Para que as exigências do meu ser
Não se conflituem com as exigências da realidade?

Como não ter medo de escolher?
Se nestas escolhas há limitações
Distâncias, perdas, novidades...

Dá vontade de gritar:
"Que se dane!"
Mas como não pensar no que poderá se danar?

E se as coisas boas forem danificadas?
O novo me chama
Me convida, me instiga e me dá medo...

Mas vou tentar conciliar
Os prazeres e os deveres
Os desejos e as escolhas.

Talvez o medo não acabe,
Mas sei que ele vai mudar de questão
Ao menos, até a próxima indecisão...

Denise Viana * Psico-Poeta