terça-feira, 25 de outubro de 2011

Um clichê chamado solidão

trata-se de uma solidão que está sempre em companhia
um estar-só, embora nunca esteja sozinho...


um sentimento que não vem com o barulho da chuva
nem com o silêncio das manhãs de domingo
ou com uma aparente tarde vazia

mas de algum lugar relutante dentro de si
atravessado por desilusões, medos e fantasias que nunca contou sequer para si próprio
sem querer aceitar a autoria dos pensamentos indecorosos

rejeitou-se e simulou por muito tempo uma saúde que não era sua
mas que roubara dos livros, de autores e personagens que, coincidência ou não,
conheciam intimamente a história de sua vida

ontem, quando se sentiu só,
lembrou-se de quantos poemas ponderando (sobre) a solidão desprezara
colocando-os na infame caixinha de clichês

viu então
escritas em seu corpo, delicadas marcas de um lugar-comum

e a solidão era apenas mais uma.

Denise Viana * Psico-Poeta

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Corpo delito

Um corpo às vezes é delírio
     Delícia
           Desejo
                 Delito


Corpo sem moral, inquieto, sabido de si

Suave e cálido,
Palhaço e bandido dos outros


Num impulso ele pulsa, batidas irregulares no peito
 Que se reverberam pelo incontrolável chiar da boca
Faminta tão terna da própria antropofagia


Antes de sentir, o corpo pré-sente
Vive os sonhos e imaginações com real sinestesia
Transgride a gramática verbal, como Manoel de Barros já denunciava
Que as crianças assim faziam


                                                    Eis que o corpo cheira canções
                                        Enxerga silêncios
                               Escuta cores
                  Saboreia poesias


Já tem uma barraca na feira onde pode se ouvir
“Um corpo aparência por múltiplos corpos vivências!!”
Troca-se!


Um corpo gozador de si
                              De estupor e brandura
                                                          Pode ser delito de outros


No cenário do crime
Sinais de uma vida pacata de um cidadão de sucesso
Que tinha tudo o que o dinheiro poderia alcançar.



Denise Viana * Psico-Poeta

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O que sei?


Como posso ser/sentir/"saber" só daquilo que vejo?
Se há lugares e pessoas que meus olhos não alcançam,
mas que minha alma encontra, se encanta, se desmantela e se indaga?





Denise Viana * Psico-Poeta