sexta-feira, 29 de julho de 2011

Estamira é abstrato!


Não, não é um “trocadilo”, Estamira morreu.
No anoitecer da última quinta (28/07).
Não foi entre os “restos” e “descuidos” de Gramacho
[O lixão virou aterro]
Não foi vendo o céu azul sendo cortado pelo vento
Que levantava papéis e sacolas a dançarem com os urubus.
Foi no Hospital Miguel Couto, na Zona Sul do Rio
“Infecção generalizada”
A família acusa negligência
A Secretária de Saúde nega
A mídia ainda fala da morte de Amy Winehouse, e de outros 'astros' que morreram aos 27.
“a terra suja ridicualizou os homens”
Sim, Estamira.
“do que adianta? sabe ler, sabe escrever e não sabe o quê”
Sim Estamira.
“valoriza o que se tem, quanto menos as pessoas têm, mais eles menosprezam, mais eles jogam fora”
Sim, Estamira.
“bonito é o que fez e o que faz, feio é o que fez e o que faz (...) a incivilização que é feio”
Sim Estamira.
Assim como a protagonista do documentário do Marcos Prado
Diariamente pessoas morrem nos hospitais públicos
Muitas dessas, vítimas do descaso e do descuido
Que ocorrem antes, durante e depois da morte
“Eu, Estamira, sou a visão de cada um”
Valter Rodrigues nunca duvidou Estamira!
Estamira para sempre, “para todos e para ninguém”.
Compartilho da dor da querida Kueyla
E vou pensando nesse “controle remoto superior”
Nas coisas concretas de algum “esperto ao contrário”
Mas, “tudo é abstrato, Estamira também é abstrato”.


Denise Viana 

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Carta sem palavras

Hoje eu recebi uma carta
Era uma carta sem palavras
                                         [sem palavras]
Mas que trazia consigo resquícios de poesia.
Não tinha palavras
                         [palavras]
Além de remetente e destinatário no exterior de seu envelope.


Tinha selos coloridos, ah! A quanto tempo não via selos! Selos coloridos...
Os olhos brilharam ao vê-los, sempre gostei de selos...


Uma carta sem palavras
Com os traços da beleza de algum nariz de palhaço
daqueles que ainda sabem do valor de fazer graça

Mas sim, era sim uma carta.
                                         [carta]


Estava lá entre as contas mensais a serem pagas e as propagandas de ofertas de outras coisas que desejam se fazer dívidas futuras...

Estava lá, 
brilhando na minha caixa de correios.
E trouxe-me aquele sorriso agradável
                                                 [aquele] 
Que só sabe o que se sente
quem já recebeu uma carta.

Era uma carta, 
                            uma carta
                                                   uma.
Com o meu endereço como destino
E o meu nome sobre ele.


Dentro, nenhuma palavra
                                      [nenhuma]
Só um pequeno embrulho que me disse:
                                  [de dentro para fora]
"Acorda estrela"...






Denise Viana 

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Silêncio

Há momentos que faltam-nos palavras...
Quais vocábulos podem traduzir fidedignamente o que se sente?
Mas nada é tão fidedigno em si, nem o sentimento...

Mas, quais palavras podem se aproximar mais do que realmente nos ocorre?

Muita e muitas vezes eu não sei o que falar,
Então, cobram a minha voz
Refutam o meu calar...

Este meu silêncio revela o ar solitário que res_piro
Nos ventos frios desta planície alta
Eles vêm dialéticos, de dentro e de fora
Congelando meus pensamentos numa mesma cena
Na mesma saudade daquilo que não tenho
No mesmo desejo intenso daquilo que cada vez mais
Distancia-se dos meus olhos
Como um navio do cais.

Denise Viana * Psico-Poeta

terça-feira, 5 de julho de 2011

Para onde quiser...


Não é que "mais vale um pássaro na mão...", nada está garantido (tampouco “caprichoso”, lembrando das disputas amazônicas...), é só um medo sutil de não ouvir mais nenhum canto, de que nenhuma ave airosa retorne aos jardins da menina, que não terá a coragem de prender nenhum pássaro amado (mesmo numa gaiola belíssima, digna de “um pássaro que se ama muito”¹). Ela sente que suas asas frágeis estão ficando cada vez mais firmes, ainda que leves, mas com aquela gostosa sensação de que também poderá voar, a qualquer momento, e para onde quiser.

Denise Viana * Psico-Poeta


¹ Citação do Conto "A menina e O Pássaro Encantado" de Rubem Alves