terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Quando o psiquiatra pirou...

O propósito deste texto foi apresentar de forma sucinta e criativa algumas das questões abordadas ao longo do semestre 2011.2 na disciplina Diagnóstico Psiquiátrico do IX semestre do curso de Psicologia da Faculdade Juvêncio Terra, sob a orientação do professor Antônio Moura.

Rferência principal: MOURA, Antonio. Linhas da Referência em Psicopatologia. Salvador: CIAN Gráfica e Editora, 2007.

Um quase teatro, uma estória quase real.
Qualquer semelhança...
É isso mesmo que você pensou!

01 Narrador e 06 Personagens: Psiquiatra que pira, Novo Psiquiatra, 3 profissionais da equipe de saúde mental e louco.
 
Recursos materiais: 5 jalecos, 2 colchonetes (ou similares), diversas caixas de remédios, uma vela e fósforo, CID 10, DSM4, Pranchetas, notebook e caixa de som.

Execução: 4 Narrações e 3 Cenas

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Introdução musical - Flauta nordestina
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Narração 1:

Numa cidade pacata
Zelosa pela moral e bons costumes
Um hospital psiquiátrico habitava.

Pequeno número de leitos e tempo de internação reduzida era uma norma
E apesar de suas grades
Tentava adequar-se a uma tal... uma suposta Reforma.

Havia ali uma equipe dita multidisciplinar
Que dividiam os seus saberes
Mas sabiam bem à quem deveriam por fim chamar.

(1ª Cena)

Louca: Socorro! Eles estão vindo me buscar! Ahhhhhhhhhhhhh!!! Tirem eles daqui!!

1ª técnica: O que está acontecendo aqui, que gritaria louca é essa?

Louca: Todos serão condenados! Eu disse pra vocês não tocarem a rainha, mas vocês não me ouviram, vocês não me ouviram!

2ª técnica: A senhora está descompensada D. Maria, será que anda cuspindo os comprimidos novamente?

Louca: (Risada escandalosa)

3ª técnica: Ela precisa ser medicada com urgência.

Louca: O céu é azul! Mas as vezes é negro!! (Grito) Ele tinha que ser sempre azul (voz de medo)

2ª técnica: Teremos que chamá-lo.

1ª técnica: Chame o psiquiatra!!!

Em silêncio a cena continua como se a louca continuasse “aos berros” e as 2 técnicas tentando acalmá-la. A outra técnica traz o psiquiatra e o som volta.

Louca: (Risada estridente)

Psiquiatra: Não há motivos para risadas!

Louca: Coitados!! Bastardos!! Coidados!! Só os meus filhos sobreviverão, vocês vão chorar quando eles chegarem, mas os meus filhos, eles não, eles não vão!! (bastante gesticulação com as mãos, começa a sussurrar e ficar com o tronco bem agitado).

(Com uma das mãos apontadas para a paciente o psiquiatra medica. Ao som da música "O Guarani" de Carlos Gomes - Introdução da "Voz do Brasil")

Psiquiatra: HALDOL!!!

A louca fica paralizada, contida, sedada. As técnicas ajeitam a paciente, enquanto o Dr. Sai e fica em cena com ar pensativo, olhando seus livros, sua bulas, seus remédio. Nisso acontece a 2ª narração.

Narração 2:

Mas o psiquiatra ele também tem nome
Ele também é um homem, é sim senhor!
O Sr. João José Antônio Pinto Costa Salvador.

Filho e neto de médico, abandonou cedo o sonho de ser artista
Às vezes, fazia atendimentos gratuitos
Alimentando o seu pseudo-espírito altruísta.

Há 30 anos se encontrava diariamente com a loucura alheia
Na busca de calar a própria.
Envolto numa segura teia, fazia das Bulas as suas grandes sócias.

Um dia deixou escapar o sentido
E não encontrou o caminho de volta
Foi quando o seu “Eu” foi perdido.

(2ª Cena)

Psiquiatra: Risos Imotivados, vivências deliróides, agitação psicomotora, alterações cognitivas, Embotamento afetivo, di-las-ce-ra-men-to do EU!!!

2ª técnica: Dr., o que há com o senhor??

Psiquiatra: Todas as respostas!! Para todos os sintomas! Pode ser neurose, pode ser psicose. Todo mundo tá com depressão. Não me enche os pacová!! Esquizo-frenia! Síndromes paranóides! Transtornos do humor e da personalidade! Ah, deixa a pessoa ter a personalidade que ela quiser!

3ª técnica: É claro e evidente que ele está tendo um surto, você que é psicóloga faça algo (volta-se à 1ª técnica).

1ª técnica: Eu vou fazer sim, vou avisar o diretor do hospital!! (sai)

Psiquiatra: Retardados Mentais!! F03, F19, F20. Um histeria de vez em quando faz bem! Mas eu não sei de onde vem nem pra onde vai tudo isso... Ahhhh!!

1ª técnica (retornando): Pronto! Já falei com o diretor, ele já informou o secretário de saúde, que já ligou para o prefeito, que imediatamente entrou em contato com o governador, eles já estão nos enviando um novo psiquiatra.

Narração 3:

A rapidez deste envio, é coisa de contador de história
Mas é fato que há um medo (pelo e do poder)
De não se ter quem ‘controle’ a escória.

A equipe, pobrezinha, tremia de aflição
Aguardavam o novo “doutor”
A quem não hesitariam em também pedir a sua benção.

(3ª Cena)

Em silêncio, a equipe está ajoelhada em volta do psiquiatra agitado, tentando acalmá-lo. A psiquiatra nova entra, de jaleco e salto alto, estende a mão para a equipe que de baixo a recebem quase beijando-lhe os pés. Num gesto com as mãos, pede para que abram espaço, para ver o psiquiatra enlouquecido.

Psiquiatra Louco: Lá vem mais uma cheia de amarras. Eu também já estive aí em cima.(Risada) Mas logo você também entenderá, que o espírito caga! Caga! Ele caga! Eles defecam sobre nós, e nós comemos com prazer toda essa merda...

(Ao som da música "O Guarani" de Carlos Gomes - Introdução da "Voz do Brasil")

Psiquiatra Nova: HALDOLL!!

O psiquiatra fica paralizado, contido, sedado. As técnicas o ajeitam na suposta maca. Todos os personagens sentam-se em silêncio atrás dos corpos caídos do psiquiatra louco e do louco da primeira cena. Uma das técnicas coloca uma vela entre os dois corpos. Enquanto isso, a 4ª e última narração acontece.

Narração 4:

Estereótipos à parte, as práticas antigas ainda se mantêm, repletas de palavras-de-ordem
Certo que, com as novas “capas” de hoje
Mas com os mesmos desejos de ontem.

Segregação e exclusão, “Afaste de mim este louco!”
“A culpa é da serotonina!!”
“Deixe-o sedado pelo menos mais um pouco”.

O hospício está em nós, nas vivências de nosso sobreviver
Um outro encontro, um outro fazer, é possível?
Sabidos, oh Sabidos! A quem serve o seu saber?

Que atire a primeira pedra, aquele que nunca delirou
Quem nunca aprendeu, enquanto ensinou
Ou que também não teve medo, ou um afeto qualquer, quando o psiquiatra pirou.
  
Canção sobre morte toca enquanto a equipe vela o corpo do psiquiatra louco como se este estivesse morto.

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Final musical - Flauta nordestina do início / Agradecimentos à platéia
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