sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Conto: Primeiro Beijo


Naquela sexta-feira, 22 de julho mais precisamente, eu estava ansiosa para a aula acabar. Ele iria me levar no ponto de ônibus, como todos os dias, e quem sabe tocaria no assunto das mensagens que havíamos trocado no dia anterior... Eu o escrevi que estava cansada relatando toda a minha rotina diária, ele repetiu-a acrescentando o seu nome no final e perguntando “Posso me incluir na sua rotina?”, “Sinta-se incluído!” foi a resposta.
Poderia ser só mais um trocadilho entre amigos, fazíamos isso há três meses, mas já estávamos perdendo o controle da situação. Primeiro era só uma amizade de cursinho, sentávamos juntos, começamos a conversar, ele passou a me acompanhar ao ponto e esperar comigo até meu ônibus chegar. Nos tornamos amigos. Ele até que dava umas indiretas, mas era difícil saber quando ele falava sério. Daí então, saímos juntos, fomos a pizzarias, festas, cinema, dançamos, divertimos, e até lemos juntos o romance “O Diário” de James Patterson, como bons amigos. Riamos juntos, falávamos bobagens, ficávamos olhando para as estrelas no céu, trocávamos CDs, todo dia tinha abraço, olhar, telefonema, uma mensagem ou um e-mail. Ficamos amigos dos amigos do outro, e assim, fomos entrelaçando nossas vidas.
Finalmente a aula havia acabado, eu sabia que se fosse logo para o ponto pegaria o ônibus daquele horário e chegaria mais cedo em casa, mas eu não queria chegar cedo à lugar nenhum. Caminhávamos a passos lentos, falando besteiras, até ele dizer que queria falar comigo. Senti o sangue sumir de minhas pernas, meu rosto avermelhar, as mãos suavam, o coração disparou, e a respiração ficou mais lenta, “O que ele irá dizer?” pensei. Fomos até o ponto mais próximo, ele tava nervoso, ficava falando as mesmas coisas sem sair do lugar, falava, falava, mas nada dizia, e ainda perguntava “E aí? O que você acha?”, eu sorria pra disfarçar o nervosismo e respondia “É! Também acho, também tô sentindo isso”, na verdade eu senti que era difícil pra ele, mas ali, ou como uma romântica à moda antiga ou uma garota orgulhosa, não tomei nenhuma iniciativa e arrisquei-me na possibilidade de toda aquela expectativa não dar em nada. Meu coração ficava cada vez mais acelerado, eu nem estava mais escutando o que ele dizia, fiquei olhando pra sua boca pra ver se ele entendia que eu estava muito afim de um beijo dele, mas o ponto encheu de alunos, tava um barulho enorme, ele me chamou pra ir pro outro ponto que tava mais tranquilo, mais um ônibus que eu pegaria passou, “é agora ou nunca!” pensei, o próximo ônibus seria o último, apesar da ansiedade não podia lhe dizer o quanto ele mexia comigo, “e se for brincadeira dele, e no final ele não disser nada de interessante?”, eu não podia me arriscar, não podia me revelar antes dele.
Chegando no outro ponto, ele começou a dizer que não sabia bem o que estava acontecendo, eu confirmei que também não sabia, na verdade, os dois queriam muito deixar toda aquela conversa de lado, mas todo aquele tempo de amizade, todas as lembranças ficavam martelando em nossas mentes, colocava em dúvida se aquilo que queríamos que acontecesse pudesse apagar os três últimos meses em que éramos somente amigos. Caminhávamos pelo ponto, sentávamos, levantávamos, fomos para um canto onde o vento não batia muito, a noite tava fria, eu encostei na parede, ele olhou-me profundamente nos olhos e fez uma pergunta relembrando uma frase que me escreveu num e-mail “Posso colocar meus olhos a dois centímetros dos seus?”, eu não respondi, fiquei esperando ele se aproximar, com os olhos a dois centímetros, finalmente nossos lábios se tocaram, fechei os olhos e senti uma vontade enorme de guardar aquele momento para todo o sempre, foi um selinho de uns cinco segundos, onde pela primeira vez, todas aquelas sensações descritas nos livros e mostradas nas comédias-românticas - que sempre caracterizei como bobos e mentirosos - me pareceram reais. Era como se o barulho dos carros passando naquela movimentada avenida tivessem desaparecido, e uma música suave estivesse sendo tocada, o frio na barriga, as pernas bambas, o tempo pareceu parar... Quando ele se afastou ainda permaneci alguns segundos de olhos fechados, sorrindo. Quando abri os olhos o vi parado na minha frente, me olhando extasiado, com um sorriso enorme, com os olhos brilhando, voltou e beijou-me intensamente, beijo quente, molhado, envolvente, arrepiante, apaixonado, emocionante...

Denise Viana * Psico-Poeta

4 comentários:

  1. Hum! q delícia!
    Como as emoções são importantes... elas revelam a beleza dos nossos momentos, tornando-os inesquecíveis!

    um bjo Deny, a eterna romântica linda!

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  2. Toda vez que leio eu me sinto lá....
    te amo...

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  3. Ameiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!! tem mais histórias???

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