sexta-feira, 13 de agosto de 2010

PRODUZ_INDO


O que me constitui?

Não sei ao certo...

Estive por aí

Nos grifos das exceções

Perdida entre as multidões

Num perambulante devir.


Apaixonei-me por Drummond

O poeta de Itabira!

E fora dele

Desacreditava nos “romances”

Mas um dia vi que até ele

Tinha lá suas imperfeições

Então me cedi a amores frios

E beijos de freelance.


A música de Leoni

Também me embriagou

Quis ser então a sua fórmula do amor

E disse que com ele até me casaria

Compus canções pensando nele

Respondendo às suas letras

Fui ninada em suas melodias.


Mas, parei de ter paixões frias

Deixando-me enamorar por pessoas “reais”

Quebrei a cara!

Mas não foi por fantasia

E encarei com alegria

As lágrimas banais.


Mas o que me constituiu?

Não sei ao certo...

Talvez foi João Gilberto

Ou Vinícius de Moraes

Que me fizeram sair do tempo

Que me tiraram do cais.

Velejei com Engenheiros

Garotos como eu, meninos do “Ráuai”

Éramos todos Iguais

Mas tão, tão-tão desiguais...

Uns mais iguais que os outros...”


Gritei “Que país é esse?

Representei Faroeste Caboclo

E adivinhem,

Eu fui João de Santo Cristo.

Eu declamava, eu vivia isto

Eu existia...

Aos treze escrevi peça na escola,

Queria ser a psicóloga

Mas, fui a personagem que morria.


Escolhi o meu papel

De fazer aqui na terra

O meu cenário de céu...

Desdobrei-me para fora do tempo

Mas sem sair de dentro

Ainda que...

Fora do centro.

Chorei-rindo de Benigne

Nas suas tragicomédias indiscretas

Fui de carona com Che

Em seus Diários de Motocicleta.


Imitei, cantei, dancei, parodiei...

RPM, Biquíne, Mamonas,

Lampirônicos, Frejat, Paralamas,

Titãs, Elvis, Guns...

Edson Gomes! Ah! “Malandrinha...

Rainhas Rita Lee e Cássia Eller

Bwanna, Bwanna’ ... ‘Ainda sou uma garotinha...


Me fiz de difícil,

Fui tentar seduzir

Desequilibrei-me, Uau! Caí

Num precipício chamado amor

E fui caindo, ao som de Reação

Lendo ‘O Diário’ e o louco do Bonassi

Ao menos feliz

Ainda não cheguei ao chão...


Mas meus pés caminham firmes

A cabeça, é que vive fora da órbita

Das normas inóspitas

Sem razão, sem moral, sem motivos

Os meus, tão teus, modos de viver

Os nossos encontros

Humanos e significativos.

Chauí, Patto, Focault

Nietzsche, Meireles, Murray

Lispector, Pessoa, Machado...

Santana, Brito, Teles, Schaun, ‘Silvas’.

Paim, Cirino, Pereira, Pires, Novaes, ‘Vianas’.

Ahh!! Gauareschi e Maturana

Nas madrugadas, eles e eu

Apaixonei-me ao mesmo tempo

Pelo “padre” e o “ateu”.


Cardoso, Vicente, Santos,

Bitencourt, Aguiar, Reis

Barros, Mirante, Chirinéa,

Drummond (Agora sim o psicólogo...)

Moura, Lopes, Drapala,

Rodrigues

Ah Rodrigues!

E seus suspensórios

Que “insuspendem” a academia.

Que desnorteia, questiona, difama,

Desaloja, desapoia, desfaz,

Mas intrépido respeita

Incita, recita, acolhe, rejeita

Emociona e invade com seu latido sagaz.


Vasculhei minhas lembranças

Mas a virtude da memória

Não se faz presente em minhas poucas qualidades

Cartografei os encontros e as rotas desviantes.

Mas algumas palavras

Alguns nomes

Tão importantes quanto os citados

Permeiam por ali

Por aqui, por acolá,

Nos pensamentos automáticos

Nas ações autopoieses...


Há mais “coisas”

Nas entrelinhas das relações

Vividas nestes meus

Quase 22 anos de constante produz-ir.

Mas isso não se trata de algo particular

E como minha história não pertence só à mim

Faço minhas as palavras de Boal

Não sou: estou sendo,

Caminhante, sou devir.

Não estou: vim e vou.”

Denise Viana * Psico-Poeta



Inspirado em atividade curricular da disciplina Psicologia e Cultura
Fonte da Imagem: "Composição", 2006, por Catarina Garcia
Disponível em: http://catarinamgarcia.blogspot.com

13 comentários:

  1. Fiz questão de ser o primeiro a comentar. Nesse momento me faltam palavras para descrever a admiração, o meu sorriso surdo de satisfação ao ler esse teu escrito. Primeiro lisonjeado por ter meu decréptico sobrenome nesta espístola sagrada. Segundo, por entender muito pouco do que se pode entender de "semicoisas" e "entrelinhas" desse poema. Você é muito mais do que o mundo já imagina que vc é Denise. Privilegiado sou de conhecer-te e me surpreender com seus escritos. Ainda produzirá muito mais... Esses dois patinhos na lagoa são as primeiras peças do bingo! Ainda falta muito pra vc gritar bingoooo! Mas vc vai gritar ainda. E saiba que o prêmio é eterno! Saudações, mais uma vez... E como sempre digo, continue produzindo... Continue escrevendo!


    Abraço do amigo Diego Schaun!

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  2. hehehe... Obrigada Dieguinho! É um prazer tê-lo como amigo! Mais ainda, como cúmplice de uma visão que distoa, que questiona e que busca sentimentos melhores...

    Continuarei sim... O que 'produzo' é fruto de meus encontros, o que me constitui são meus amigos(as), familiares, parceiros(as), professores (as), escritores(as), músicas, cinemas, flores, imagens, vozes...
    Continuarei constituindo-me em tudo que me envolve, em tudo que acredito...
    Obrigada!

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  3. Realmente algo lindo.. que emociona.. e como emociona...
    Deny, sempre gostei dos seus poemas.. mas este pra mim foi diferente, ele me tocou de uma forma que eu nem conseguia explicar.. então chorei.. derramei-me.. mas foi choro de amor.. de identificação.. de me sentir parte do que estava escrito... de entender o que estava ali.. já te disse uma vez e te digo de novo.. é muito bom crescer com você.. e cada experiência.. principalmente como esta.. me faz ter a certeza de como a sua presença na minha vida é boa.. de como você é um presente de Deus para mim e de muitas outras pessoas... vc enriquece os meus dias, com a sua amizade.. com o seu sorriso.. com o seu carinho e com as suas palavras.. sejam elas escritas ou faladas.. Resumindo... EU AMO VC minha querida amiga!!!

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  4. Te amo muito Moninha! Obrigada pelo carinho!

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  5. E, deixe-me dizer, aquele Rodrigues do Ah Rodrigues!, tem a ver comigo. E o que tem muito a ver comigo é a alegria de ter Denise como intercessora e aliada nas aventuras pelo pensamento. Porque é sempre assim, não se pensa só, mas sempre com aqueles que nos alegram no esforço do pensar. É aí que a vida briluz.

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  6. Meu Deus... Que coisa mais linda!!!
    Fiquei muito emocinado, Nise, com essa homenagem tão bela que a única forma de conseguir, um pouco demonstrar com palavras o agradecimento e o encanto que senti, foi lhe retribuindo com esse sincero poeminha:

    Doce menina
    Tu és poesia escrita por Deus nas linhas do tempo
    Feita dos resíduos do tinteiro do qual Deus pintou o Belo
    És a letra que penetra a carne, és uma espada literária
    Ler seus escritos é enxergar as sobras de uma alma que não cabe em si mesma
    São sobras das automutilações que sua alma sofre para poder caber em seu corpo
    É o que faz a perfeição para caber no imperfeito
    É isso que dá vir para esse mundo de imperfeições
    Ele causa doenças psicológicas
    Uns, por não suportarem tanta loucura, se tornam psicopatas
    Mas os de almas grandiosas, esses se tornam “psico-poetas”...
    Tu és uma doce flor que Deus pôs no mundo para dar cor a tudo o que é cinza
    És a brasa que aquece tantos nessa cidade tão fria
    És a canção que inspira alegria
    És de Deus uma bela poesia


    Tiago Paim

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  7. É rapaz, ver sua vida descrita através de seus artistas mais marcantes talvez seja uma das melhores formas de ela como ela realmente foi. Cara, cada momento com seu sentimento, e normalmente a gente externaliza isso através da arte. Consegui conhecer um pouco mais de vc com esse poema, um período que e não te cohecia ainda, mas que foi bem descrito através de seus autores. Parabéns por seu poema e por mais um ano de vida! Pode contar sempre com o zé aqui!

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  8. Nossa.. tô fã deste Tiago Paim.. rsrsr

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  9. Ah, Rodrigues!
    Seu convite à pensar...
    Obrigada por convidar!
    A alegria e a amizade!

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  10. Tico, Tico...
    Como posso caber em mim
    com esse tamanho todo de
    carinho que recebo?! rsr
    Obrigada pelo terno e sincero poema!

    Abraços!! =]

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  11. Zé Willa!!
    Prá sempre Zé Willa!!!
    Obrigada querido da dinda!
    Tá vendo, como sempre tem algo novo
    para se conhecer de um/a velho/a amigo/a?
    rsrs...
    Abração meu querido!!

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  12. Denise,

    Adorei o estilo, a subtileza, a expressão poética... Lindoooo!!!

    Tal como vc diz... não somos, estamos sendo!:))

    BjO´ss

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